Na hora de escolher a escola dos filhos as famílias procuram aliar um bom sistema de ensino com a proximidade de casa. Mas há quem queira mais e procure locais com mais ofertas, que promovam o desenvolvimento de outras capacidades. Ao longo de duas semanas, visitei cinco escolas certificadas, que usam pedagogias de ensino menos convencionais. Fica a conhecer a Casa da Floresta, que usa o método Waldorf que vê a criança como um ser espiritual.
A Casa da Floresta é fruto da preocupação de um grupo de pais que questionava o modelo do ensino convencional. Fundada em 2004, assegura uma alimentação ovolactovegetariana biológica aos seus alunos, e valoriza a vertente artística e espiritual no desenvolvimento das crianças.
Esta escola aplica a pedagogia Waldorf, cuja conceção se baseia numa visão holística da educação e no facto de a criança ser encarada como um ser espiritual. Os pais têm cartões de entrada na Casa da Floresta. De manhã entram livremente, cumprimentam as educadoras, sobem até à entrada da Casa e colocam a mala do filho juntamente com as outras. Depois podem sentar-se, falar com os professores, observar os filhos e permanecer o tempo que desejarem.
Crescer num oásis de verdura
São 9h da manhã na Casa da Floresta em São Domingos de Benfica, junto ao Parque Florestal de Monsanto. As crianças brincam e correm livremente pelo jardim outonal da Casa, que tem acesso à mata.
Jasmim tem um ano, olhos azuis e cabelo louro encaracolado. Sai do colo da mãe e vai para os braços da educadora de infância. Juntas caminham até à entrada da sala da creche onde Jasmim tira os sapatos e calça umas pequenas pantufas. Tudo neste espaço parece fluir. A cozinha é quase como se fosse nossa, de tão familiar, e o mesmo acontece com a sala de estar e de dormir. Aqui a natureza é tanta que, ao olhar pela janela da sala, jamais se pensa estar no meio de uma cidade como Lisboa.
Sofia Machado diz que decidiu colocar Jasmim nesta escola, porque “é mais uma casa do que uma instituição”, que permite dar às crianças um “ambiente estável e com muita unidade emocional”.
Esta mãe diz que a escola “valoriza a parte individual e espiritual da criança, e tem espaço para que elas cresçam” em liberdade. Para Sofia Machado, o importante é que a filha “saia daqui com a capacidade de se compreender a ela própria, e a saber cultivar relações saudáveis com os outros”.
“Bom dia lindo sol, bom dia nobres pedras”
Todas as manhãs antes das aulas, os alunos cumprem ao ar livre o ritual da roda. Num círculo, 15 crianças do 1º ciclo, dão as mãos e cantam poemas e odes à natureza. “Bom dia lindo sol, bom dia belas flores, bom dia aos animais, bom dia às nobres pedras”, cantam enquanto, num gesto de carinho, levam a mão ao coração.
Um dos educadores, que também está de mãos dadas com os alunos, oferece uma flor a uma das crianças e todos cantam em sintonia: “Toma lá este raminho que tão bem te ficará”, a criança oferece depois a flor a outro colega e a brincadeira assim prossegue.
No imenso jardim da escola, são os troncos de madeira que servem de bancos. Os baloiços e os escorregas são de lenha, não há carrinhos de plástico ou barbies. O objetivo é o de estimular o sentido crítico e a criatividade. “É completamente diferente tocar num carro de madeira ou tocar num carro de plástico. Num carro de madeira que não está pintado ou estereotipado a criança pode inventar inúmeras brincadeiras”, explica a diretora da Casa da Floresta, Rita Dacosta.
A criatividade é estimulada, a par do português e da matemática, por aulas de música, carpintaria, horta pedagógica, costura, capoeira e inglês.
Carne e peixe banidos da ementa
Está quase na hora de almoço que será, como é habitual, ovolactovegetariano biológico, uma dieta que exclui a carne e peixe. Todos os dias, o almoço tem um cereal e uma proteína diferente (vai do tófu à lasanha de soja, passando pelo seitan).
A Tia Inês, como é conhecida, é quem, a par das crianças, prepara as refeições. Porque fazer pão e iogurte também é uma atividade pedagógica.
“Queremos uma alimentação isenta de químicos porque muito daquilo que nos somos é o que comemos”, diz a diretora da Casa da Floresta, salientando que “nós respeitamos muito as famílias. Não impomos a nossa forma de ser mas damos a estas crianças a visão de que elas podem alimentar-se sem comer animais e que existem alternativas às normas”, esclarece Rita Dacosta.
A horta de 600m2, ajuda os alunos a perceber quais são as frutas da época e quanto tempo é que demora a crescer um determinado legume. “Os alunos só comem fruta da estação e sabem que não vão comer morangos em dezembro nem pêssegos em janeiro”, diz a diretora.
Os educadores são vistos como orientadores que recorrem ao exemplo para educar, respeitando o desenvolvimento emocional e espiritual da criança. Esta visão holística – doutrina que vê o indivíduo como um todo – da educação é apenas uma das características da pedagogia Waldorf, criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner em 1919.
A filosofia holística, a responsabilidade social e a ligação com a natureza são os pilares do método Waldorf, que como explica Rita Dacosta “trabalha muito a autoestima e o poder crítico da criança.”
Bilhete de identidade da Casa da Floresta:
A Casa da Floresta, reconhecida pelo Ministério da Educação, inspira-se no método Waldorf que tem como ponto de partida o cultivo das potencialidades individuais da criança através de princípios éticos que promovam qualidades como a generosidade, a justiça, a responsabilidade, a honestidade, a tolerância e a consciência ambiental.
Idades: Aceita crianças de 1 até aos 10 anos (Creche, Pré-escolar e 1º ciclo do ensino básico).
Horário: Funciona das 8h30 às 17h (horário normal) e das 17h às 19h (regime de prolongamento).
Preços: A mensalidade da Creche e do Jardim de Infância é de 490 euros. A inscrição custa 275 euros. No 1º Ciclo, a mensalidade é de 515 euros, a inscrição custa 325 euros. O pagamento pode ser feito em três prestações com um desconto de 2%. Em caso de frequência de irmãos há um desconto de 5% para o segundo irmão e de 15% para o terceiro.
Esta série de reportagens foi desenvolvida enquanto estagiária no jornal Expresso.
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