É com dificuldade que tento encontrar palavras que descrevam a prática ascética que considero ser o Yoga. Considero esta prática terapêutica um catalisador para o suave despertar da consciência. Acredito que através desta ferramenta poderosa podemos encontrar um estado de plenitude, equanimidade, imperturbabilidade.
Iniciei-me na prática do yoga porque procurava uma actividade física que cultivasse um lado espiritual que já sabia ter, bem como uma actividade desafiante que me ajudasse a combater um problema generalizado de ansiedade. Procurei e encontrei um shala – ou aquilo se em sânscrito se denomina “a casa do yoga”. O meu primeiro encontro com o yoga teve lugar na Casa Vinyasa, um “shala” que dá aulas de Ashtanga yoga e que se tornou a minha casa nos anos seguintes. Na minha primeira aula experimentei de imediato um apelo a esta prática que desconhecia por completo. Já no fim, na altura o relaxamento, senti um arrebatador bem-estar e equanimidade. Um cansaço suado, mas feliz. Desde esse momento senti: eu consigo e quero fazê-lo!
Yoga: a viagem à Índia
Após o primeiro encontro com o yoga seguiram-se fases de práticas ininterruptas e diárias e outras de práticas leves e regulares. Após um ano e meio de uma prática regular cedi à voz e à vontade interiores que me diziam para ir à Índia, estudar na “fonte” e parti rumo ao país das especiarias.
Feminista assumida, optei por praticar com Saraswathi Jois que é não só uma referência do Ashtanga Yoga como também um símbolo da força de uma mulher que, no seio da sociedade indiana da década de 70, teve a coragem de questionar as normas sociais e a genealogia familiar daquela época. Foi a primeira mulher a dar aulas de yoga a homens e a primeira mulher a ser admitida no Colégio de Sânscrito, na cidade de Mysore, Índia.
Quanto a mim, acordava de madrugada e saía de casa, rumo ao shala para praticar, ainda na noite cerrada. No shala, o ar era quente e húmido e o som da respiração uníssona, que mais se assemelha ao som do oceano, inundava a sala. As pessoas moviam-se com compassos únicos e cada movimento entrava em sintonia com a respiração. Imponente e de semblante austero, mas doce para quem lhe vê os olhos, Saraswathi Jois, caminhava pela sala com uma cadência confiante e guiava os alunos pelas posturas que compõem aquela que é a primeira série do Ashtanga Yoga.
Não gosto de entrar em demasiadas definições e generalizações sobre o que é o Ashtanga porque acredito fundamentalmente que a experiência do yoga é demasiado única e compete a quem o experimenta, defini-lo e senti-lo por si só.
Para mim o yoga é um toque interdito num corpo suado. Uma estranheza desconfortável. Uma dor que não sabia puder existir. Um corpo inexplorado. Um desafio e um desabafo. Um querer fugir mas ficar.
Shala do Shri K. Pattabhi Jois Ashtanga Yoga Institute: http://www.kpjayshala.com/