Parte I: A nossa sorte é a medida da nossa vontade

“Great dedication now brings success” diz a mensagem que me saiu no biscoito da sorte chinês do LIDL há uns anos atrás e que, desde há um mês para cá, carrego religiosamente na capa do meu telemóvel.

Nunca consegui passar impune a uma caixa de biscoitos da sorte e tornou-se tradição munir-me de uma sempre que ia jantar com amigos ou familiares. No final do jantar, cada convidado era presenteado com um biscoito e com uma mensagem otimista e mediúnica que divertia o imaginário popular do grupo.

De todos esses encontros, guardo o grande molho de mensagens que me saíram nos biscoitos da sorte, na estante de livros e recorro a elas, por divertimento e incentivo, sempre que vou buscar ou arrumar um livro.

Alguém já me disse “tens uma estrelinha da sorte”, mas a sorte, acredito eu profundamente, dá muito trabalho. A sorte como uma “força sem propósito, imprevisível e incontrolável, que modela eventos de forma favorável” vem com muito sacrifício.

Parte I

Entrei no ano de 2022 com o objetivo profissional muito particular e estratégico de trabalhar um ano no terreno com as Nações Unidas – uma experiência que, ao servir o meu plano maquiavel, servirá como porta de entrada no complexo e competitivo sistema da ONU.

Antes de prosseguir, importa referir o seguinte: saí de Portugal rumo a Bruxelas em 2020 com o objetivo de estabelecer uma carreira internacional no coração da Europa. O E., engenheiro há cerca de 10 anos numa empresa americana aka pessoa responsável e estável, pediu relocação de Portugal para Bruxelas e juntou-se a mim, em março de 2021.

Em Bruxelas, vivemos dois anos de uma vida fantástica – uma casa de sonho, amigos para a vida, passeios pela europa, cerveja, vinho, chocolates e putines depois do trabalho (e que trabalho de santa tinha eu!) …

Passado dois anos, consegui consolidar a minha experiência profissional internacional, mas… cá dentro, nas profundezas do meu ser, o bichinho aventureiro e meio adormecido que fermentava na minha alma há já tantos anos, começou a vir ao de cima. Estava na hora de mais.

Passado uma década de namoro, o E. conhece o meu espírito irrequieto e, incrivelmente (para meu espanto e para espanto de todos), aceita-o e encoraja-o. Tenho mesmo o melhor companheiro do mundo.

Escusado será dizer que, mal 2022 começou, concentrei todas as minhas energias em candidaturas morosas em diversas agências espalhados pelos demais países africanos e do Médio Oriente, para missões de um ano. Completamente focada, fazia candidaturas minuciosas e detalhadas, alheada ao sacrifício que é deixar para trás o E. em Bruxelas e rumar a um país de terceiro mundo, onde ficaria durante um ano.

Sou idealista. Talvez seja esse idealismo que me faz acreditar e profundamente sentir, no mais íntimo de mim, que conseguirei alcançar os objetivos aos quais me propuser. Acredito profundamente, mas certamente não aguardo imóvel, que a sorte me bata á porta. Por detrás da vontade, existe o trabalho, invisível para quem olha de fora, mas também o sacrifício, o desespero (e quanto!) e a desilusão. A nossa sorte é a medida da nossa vontade.

Sabia, através de conhecidos que se encontram a trabalhar no terreno, que o processo de recrutamento destas missões, é extremamente moroso. A minha esperança sempre foi começar esta missão de um ano, o mais cedo possível, de forma a regressar a casa (Bruxelas), o quanto antes.

Cuidado com o que desejas…

 

 

 

Parte II a sair brevemente. Mais monólogos aqui.