Em Novembro de 2016 estava na Índia, na cidade de Mysore, para estudar yoga sob a orientação de Saraswathi Jois – uma das referências modernas do Ashtanga Yoga. astrologia
Numa tarde de Novembro que não consigo precisar, fui a um café que frequentava habitualmente, com duas amigas, e alguém nos segredou que o astrólogo que fazia leituras de astrologia védica estava a alguns metros de nós, disponível para ler os mapas védicos de quem assim o desejasse.
Tendo crescido com uma mãe altamente supersticiosa, que baloiçava o pêndulo para saber se a filha ia passar no exame de condução, que se benzia sempre que via passar uma carrinha funerária, que me tirava o quebranto (mau olhado) quando tinha dores de cabeça e quando me lançava o tarot para responder a uma qualquer questão existencial que tenha surgido durante o dia, posso dizer que as minhas expectativas quanto a uma leitura fidedigna do meu futuro eram escassas.
Acredito que o ser humano tem uma capacidade incrível de fabricar uma ligação lógica com o sobrenatural. Alguém que acredite poderá facilmente associar uma carta de tarot a um qualquer aspecto da sua vida. Faz parte da natureza humana querer compreender, criar simbolismos e fazer ligações de forma a justificar o que pode ser apenas o acaso.
Ainda assim, sendo mais curiosa e aberta ao mundo do que descrente, decidi dar à astrologia védica a oportunidade de me fazer acreditar.
Afinal, tendo já dado oportunidade à astrologia ocidental depois das incontáveis leituras de tarot da minha mãe, às artes africanas depois de uma consulta de búzios com uma vidente da Amadora e às capacidades mediúnicas dos árabes depois de uma leitura da borra do café com um turco famoso em Istambul, porque não dar oportunidade ao sistema indiano de astrologia? Tem tudo para correr bem.
A astrologia védica e o mapa astral
As minhas duas amigas foram primeiro do que eu. Enquanto esperava bebi um chá de gengibre e mel. Passado algumas horas e já sem grandes esperanças de que houvesse tempo suficiente ou disposição por parte do astrólogo para me receber fui chamada. Acabei por ir ter com ele a uma mesa na parte interior do café.
O astrólogo era, afinal, estudante da Nalanda Wisdom Tradition ensinada pelo Dalai Lama e fazia leituras védicas nos seus tempos livres a troco de rigorosamente nada. Harsha, o seu nome, era também um artista e fazia ilustrações deliciosas (em baixo) de diversas cenas e momentos do quotidiano – desde concertos de música a cerimónias budistas no Himalaias.
Antes da consulta começar, é necessário dizer ao astrólogo o nosso nome, a hora e o local exacto do nosso nascimento. Depois, essas informações são introduzidas numa app que cria o mapa astral com as posições dos nove planetas nas suas respectivas casas, no preciso momento do nosso nascimento. O mapa astral é o gráfico astrológico que permite observar a posição correcta dos astros em relação à posição da Terra no momento exacto do nascimento de cada pessoa. Esse mapa é depois descodificado pelo astrólogo. A posição dos planetas nas respectivas casas vai indicar traços de personalidade, tendências e também quais as fases mais importantes da nossa vida, bem como o nível emocional, físico e espiritual nesse determinado momento. O mesmo pode também partilhar algumas informações sobre a cura e a transformação.
A leitura do meu mapa astral
Num momento inicial o astrólogo fez um comentário rápido e conciso sobre a ausência de um membro da minha família ao longo da minha vida. Anuí e ouvi a restante informação com um espírito aberto, mas reticente.
O que se seguiu foi extraordinário: durante uma hora, o Harsha fez a leitura do meu mapa astral e detalhou, extraordinariamente, cada momento significativo da minha vida até então.
À medida que ia falando do significado dos planetas em determinada casa, o astrólogo ia desrevendo com o mais ínfimo detalhe traços da minha personalidade e eu ia anuindo sem fazer grandes julgamentos. No entanto, a fase que se seguiu deixou-me boquiaberta. O Harsha começou a identificar as fases mais simbólicas da minha vida, ano após ano e com a maior precisão que alguma vez testemunhei.
De 2003 a 2010 decorreu uma mudança emocional poderosa, no ano 2012 tudo mudou emocionalmente devido a uma questão familiar, entre 2015 e 2017 decorreu isto e aquilo e assim sucessivamente. Para me explicar melhor, o Harsha desenhou o meu mapa astral no meu bloco e notas e escreveu a posição dos planetas em cada ano referindo até quais vão ser os anos mais importantes da minha vida e porquê. Índa Índia Índia Índia
Como se não bastasse seguiu-se uma previsão do futuro. Quando estarei preparada para iniciar uma família, quando irá surgir uma boa oportunidade profissional, quando vai ocorrer uma poderosa transformação, quando vou encarar a vida de uma forma mais tranquila e ponderada. Meu deus. O Harsha até me disse quantos anos é que eu vou viver! “75 at least”, foram as suas palavras exactas… Já não é mau de todo hã!!!
Entretanto, o astrólogo abordou a minha vocação profissional e este era, sem dúvida, o tema que me despertava mais curiosidade. Incrivelmente o Harsha disse-me que tinha vocação para a escrita e para trabalhar na televisão, “atrás das câmeras”. Depois disse-me “tem coragem e escreve”. Este momento foi profundamente reformador e incrível. Incrível porque, de alguma forma, sempre senti que era esta a minha vocação, mas ouvi-lo, naquele contexto, a confirmá-lo foi ainda mais extraordinário e….transformador.
Acreditar
A uma determinada fase da consulta, dei por mim a lacrimejar. Os detalhes eram demasiados, os anos que mais me marcaram batiam certo, os traços de personalidade, bons e maus, as lutas e os anseios, as dúvidas e as hesitações.
Acredito, como já referi, na incrível capacidade do ser humano em fazer associações lógicas com o sobrenatural, mas naquele momento, tudo aquilo fazia sentido.
Esta consulta foi feita em 2016 e posso confirmar que as previsões do Harsha para 2019 se confirmaram. Não me interpretem mal. Não prossigo a minha vida a olhar para o meu mapa astral. O bloco de notas, onde o Harsha desenhou o meu mapa astral e onde rabisquei todas as informações que me deu, estava guardado na gaveta desde 2016. Só há uns meses, quando comecei as arrumações do escritório, é que dei por ele e fui reler as previsões feitas na altura (e que me tinha esquecido). É por essa razão que acho tudo isto ainda mais interessante. Vivo a vida de uma forma espontânea, não sigo senão os passos que acho que devo dar e assim o continuarei a fazer.
Agora que já partilhei convosco esta experiência, está na hora de colocar o bloco de notas novamente na gaveta. Talvez daqui a uns anos o vá reler novamente e talvez acabe por tirar outra conclusão qualquer. Ou quem sabe, talvez acabe por continuar, tal como agora, a acreditar.
- Fiz aqui o meu mapa astral
- Algumas dicas para descodificar o mapa 🙂
Tão bonito, Soraia! 💛 A tua escrita inspira qualquer pessoa!
Beijinhos