Um grupo de pessoas perto do Rio Ganges na Índia

Diários da Índia: o frio é uma lâmina que se adensa

Ilustração de uma mão a agarrar numa flor

12/01/17, Índia, Rishikesh
Cartas de viagem

A minha mente, o meu coração e o meu corpo debatem-se com a rotina. Está frio – mais do que aquele que esperava conseguir suportar – e a minha mente luta contra o despertador, contra o frio da madrugada que se entranha nos ossos das costas, contra as dores nas articulações e nas extremidades do corpo.

O dia começa às 5h50 com um banho quente para acordar o corpo. Às 6h30 há pranayama, a primeira aula do dia, seguindo-se a prática de Ashtanga às 8h30. Por esta altura a temperatura já começa a aumentar dos 5 para os 8 graus mas não é por isso que custa menos tirar o casaco e as várias camadas de roupa que visto para combater o frio (a sensação térmica é terrivelmente menor). Sabes que sofro com o frio. Normalmente começo a prática com algumas camisolas e só depois dos primeiros Suryas Namaskara é que me sinto quente o suficiente para tirar as camadas de roupa e prosseguir com a prática.

Depois segue-se o brunch (finalmente!). Os minutos são escassos e ao 12h tenho de estar de volta para uma aula de alinhamento e ajustes. O dia assim prossegue, com escassos intervalos de 15 ou 20 minutos entre as aulas. O jantar é às 18h e se conseguir comer até às 19h ainda me sobra cerca de uma hora para descansar antes da última aula do dia que decorre das 20h às 21h (aula de meditação ou contemplação).

Pouso a mala, o casaco e a manta super quentinha que comprei aqui em Rishikesh, na cama às 21h15. Tomo um banho quente, seco o cabelo com o secador da minha companheira de quarto alemã e, finalmente, deito-me.

Não passaram muitos dias desde o início do TTC (Teacher Training Course) e a minha mente e as minhas emoções flutuam ora entre uma vontade imparável de desistir e chorar ora entre uma vontade de me superar e de tirar o melhor proveito desta experiência, independentemente do quão difícil seja. Já se passaram dois meses na Índia.

No outro dia tive uma experiência que quero partilhar contigo. Na primeira aula de meditação do curso participei, pela primeira vez, na meditação dinâmica de Osho. Os professores pediram para nos sentarmos e para dizermos (em voz alta) aquilo que sentíamos às pessoas com quem estamos magoadas. “Falar alto? O quê? Devem estar doidos. Não vou fazer tal coisa” pensei, enquanto olhei com um ar duvidoso para a minha companheira de quarto.

Senti-me numa emboscada. Acho que “emboscada” é a palavra que melhor descreve toda esta experiência. Senti que não tinha escolha. As luzes apagaram-se e ficámos às escuras. Os professores começaram a andar pela sala e a fazer barulho, a gritar, a falar, a rir e as pessoas começaram a falar sozinhas, de olhos fechados (sons imperceptíveis). Eu tentei perceber a confusão que se passava à minha volta e, a muito, muito, mesmo muito custo, lá consegui sussurrar o que sentia. No final lágrimas, risos e suor.  Índia…

Mas hoje é um novo dia. Sinto-me melhor (é  day off). Comprei um aquecedor para o quarto (às escondidas… supostamente não é permitido porque se gasta mais luz, mas com o frio que está é difícil não o fazer…), comprei uns incensos e umas velas e ao menos quando estou no quarto sinto-me confortável! A minha roomate é uma alemã super querida e estamos sempre juntas a tentar sobreviver ao TTC e na luta contra o frio!

Rishikesh é uma cidade linda. No outro dia, antes do curso começar, visitei o Ashram dos Beatles e só pensava no quando ias adorar este lugar! Também aproveitei para ir fazer rafting no Ganges… Sim rafting com 5 graus. É de loucos, mas queria aproveitar para explorar e fazer o máximo de actividades em Rishikesh antes do curso começar. Foi muito divertido e a paisagem é linda!

No entanto os dias de passeio já lá vão e agora é olhar para o calendário e esperar sobreviver até ao final do mês e do curso para depois, finalmente, ir para casa. Estou pronta para novos desafios! Não te sintas pressionado a responder. Fá-lo se quiseres e se tiveres vontade. Sei que te é mais difícil expressar e sim sei que não és de “parlapier”. Índia Índia Índia Índia

Até breve

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