Equanimidade

Uma partilha otimista para alegrar este momento quaso apocalíptico que vivemos.

 

Igualdade de ânimo perante a prosperidade e a adversidade.  Serenidade de espírito, imparcialidade. Retidão.

Equanimidade – é a minha palavra favorita. Desde que me lembro, sempre almejei alcançar um estado de plenitude perante as coisas. Sempre quis enfrentar os desafios com uma força imaterial, quase metafísica, com um determinismo inocente de quem compreende, acima de tudo, que toda a dor é uma condição natural da existência humana.

Sempre quis desfrutar do bem-estar com uma humildade de quem sabe não ser superior, porque fundamentalmente somos todos iguais. Estas construções e representações sociais que nos fazem crer que o nosso valor reside no que fazemos profissionalmente, no que possuímos, no valor do estatuto que construímos, no reconhecimento dos pares na profissão e numa superioridade imaginária perante os outros.

Equanimidade é a minha palavra favorita de todos os tempos porque sugere um estado de constante contentamento quaisquer que sejam as circunstâncias da vida (não de uma forma infantil, apática ou alheada). A equanimidade não acontece só quando as coisas nos correm bem. A equanimidade vai além dos juízos de valor do que é certo ou errado, bom ou mau. Este estado de plenitude pode estar presente quando tudo à nossa volta acontece, simplesmente. Quer seja bom ou mau. A diferença entre desfrutarmos ou não da equanimidade passa pela compreensão de que, apesar das nossas circunstâncias, tudo é transitório. É quase como a bela visão do mundo descrita pelos japoneses como wabi-sabi –  a beleza das coisas imperfeitas e a aceitação pacífica da impermanência das coisas.

É claro que não é fácil alcançar este estado. Eu própria já agi de modo alheado a tudo isto. Já esperneei, gritei, errei. Onde é que está a equanimidade nestas alturas?

De acordo com a minha experiência pessoal, a equanimidade pode vir de um aglomerado de experiências que, embrulhadas umas nas outras, nos fazem perceber que espernear e gritar acrescenta-nos tanto como simplesmente parar e inspirar profundamente para permitir que a emoção que nos transborda nesse momento passe. Por outro lado, a equanimidade pode surgir naturalmente, como quem não quer a coisa, depois de um estado prolongado de bem-estar ou felicidade. Pode surgir de mansinho, aquecendo-nos o coração e apaziguando-nos a inquietude.

O importante é permitir que a equanimidade nos bata à porta, trabalhar mentalmente para que ela nos preste uma visita. As nossas vidas podem não ser perfeitas, as circunstâncias podem não ser as ideais. Reconhecer a imperfeição e a impermanência das coisas com um leve sorriso, mesmo que esguio, isso sim é a equanimidade.

 

  • Um vídeo que me inspirou ao escrever este texto.
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