Na hora de escolher a escola dos filhos as famílias procuram aliar um bom sistema de ensino com a proximidade de casa. Mas há quem queira mais e procure locais com mais ofertas, que promovam o desenvolvimento de outras capacidades. Ao longo de duas semanas, visitei cinco escolas certificadas, que usam pedagogias de ensino menos convencionais. Na escola de hoje, meditação e incentivo dos colegas são um dos segredos para melhor aprender.
A voz calma e reconciliadora da professora Cátia Azevedo conduz os alunos na sessão diária matinal de meditação, ao qual o Colégio Sá de Miranda, em Arroios, chama “Mindfulness Plus”.
Cátia pede aos alunos do 3º ano, com cerca de 9 anos, para relaxarem e fecharem os olhos ao som de uma música suave e das palavras “Libertamos tudo aquilo que nos faz sentir tristes, concentramo-nos na nossa respiração e sentimos a energia a percorrer o nosso corpo”. As crianças estão serenas, de olhos fechados e a sorrir. Apreciam este ritual. Quase a chegar ao fim, a professora pede aos alunos que visualizem as emoções positivas e o bem-estar que vão sentir durante o resto do dia. Esta projecção é o “Plus” (o mais) deste exercício de relaxamento e concentração. No final, seguindo as palavras da professora, os alunos abrem os olhos, levantam-se e abraçam o colega do lado.
Na sala ao lado, Vera Sousa, de 29 anos, professora há cinco, faz o “exercício da gratidão” com os seus alunos do 2º ano.
Cada aluno corrige o trabalho do colega – neste caso a tabuada de multiplicar – e, no final, o aluno que corrige diz, em alto e bom som, que pontuação é que o colega teve no exercício. Caso o colega tenha a pontuação máxima a turma aplaude e diz “Parabéns! Conseguiste”. Se, por outro lado, o colega teve uma nota mais baixa, nem por isso deve ficar triste ou envergonhado, já que a turma diz em uníssono “não te preocupes! Amanhã fazes melhor, vais conseguir e nós vamos ajudar-te!”.
Como explica a professora Vera Sousa “este exercício é muito importante para ensinar as crianças a tolerar os erros dos outros, subir o bem-estar e prevenir a depressão”. Mas o exercício ainda não terminou. Depois de avaliarem os trabalhos uns dos outros, as crianças explicam, por sua vez, porque é que se sentem gratos.
Vasco, de 7 anos, particularmente tagarela, diz-se agradecido “porque tenho uma professora que ensina muito bem, que é linda e otimista!”. “Mas o que é ser otimista?”, pergunta a professora. Vasco responde e diz que ser otimista “é nunca desistir e ser feliz”.
Uma escola que ‘casa’ dois métodos de ensino
A comunicação positiva é uma das características mais importantes deste ensino, onde o incentivo e a valorização estão constantemente presentes na comunicação entre os alunos e professores.
Para o diretor, Manuel Oliveira, “juntar conteúdos da felicidade no ensino” é a receita para “resultados escolares de excelência”. Um exemplo? “Fomos o número um nos exames nacionais de matemática e o sexto global em português e também matemática”.
O projeto do Colégio Sá de Miranda começou há cerca de dez anos, quando Manuel Oliveira, psicólogo e responsável pela direção pedagógica, e a sua mulher decidiram criar um programa educativo com base no otimismo e na resiliência das crianças. meditação meditação meditação
Partiram do estudo dos psicólogos Martin Seligman e Christopher Peterson que, no início do século XXI, criaram um manual com uma lista de forças e virtudes humanas. O estudo indicou que existem “24 forças de carácter” que estão presentes em todas as pessoas e que desempenham um papel importante na luta contra as doenças mentais.
As tarefas escolares são todas orientadas pelas forças que constam dessa lista das ‘”24 forças de carácter”, da qual fazem parte a criatividade, a coragem, a integridade, a cidadania, a liderança, o amor e a espiritualidade, entre outras.
Uma das orientações a que o colégio recorre é a psicologia positiva e o desenvolvimento da inteligência emocional das crianças como método pedagógico. Baseiam-se nessas 24 forças que, quando desenvolvidas, “criam um ser humano muito feliz e equilibrado, tanto no local de trabalho como na família” explica Manuel Oliveira. O psicólogo diz que “este é o exemplo de que crianças felizes aprendem mais.”
Criado nos anos 60, em França, pelo pedagogo Celestin Freinet, o Movimento da Escola Moderna (MEM) propunha-se democratizar o ensino nos países mais conservadores. Atualmente, opõe-se à escola de massas e faz formação de professores, e é uma das ferramentas de ensino usadas no Sá de Miranda.
O MEM valoriza o trabalho em grupo, a individualidade da criança e a cooperação em detrimento da competição.
Como refere Sérgio Niza, cofundador do MEM em Portugal, “os professores do mesmo ano de escolaridade, juntam-se semanalmente (na sede do movimento que fica em Benfica) para discutir e fazerem avançar o trabalho dos seus alunos.”
“Aqui cada professor é um coach motivacional. As turmas são pequenas, têm entre 13 e 16 alunos e o ensino é bastante personalizado. Estamos focados em desenvolver as forças individuais de cada um e evitar a competição.
Crianças “felizes na sala de aula, estão mais dispostas a aprender”, sintetiza o diretor do Colégio Sá de Miranda para explicar a sua opção de recorrer a estes dois métdos de ensino.
Bilhete de identidade do Colégio Sá de Miranda
O Colégio Sá Miranda tem a psicologia positiva e o desenvolvimento da inteligência emocional das crianças como método pedagógico. A pedagogia ensina as crianças a lidar positivamente com as adversidades e a conhecer estratégias para ultrapassar problemas e desafios com uma atitude otimista. Atividades como o yoga e a meditação são altamente incentivadas.
Idades: Aceita crianças dos 3 até aos 12 anos, assegurando jardim de infância, 1º e 2º ciclo do ensino básico.
Horário: Funciona das 7h30 às 19h.
Preços: A mensalidade do jardim de infância é de 263 euros mediante o pagamento da inscrição de 198 euros e do seguro escolar de I9,50 euros. No 1º e 2º ciclo, o preço é de 272 euros/mês, a que acresce o pagamento da inscrição e do seguro escolar.
Esta série de reportagens foi desenvolvida enquanto estagiária no jornal Expresso.
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