Os engravatados de Bruxelas

Disclaimer ou descargo de responsabilidade: A informação deste artigo advém meramente do conhecimento empírico que vim a ganhar nos últimos meses (quase um ano?) de vida em Bruxelas e nos encontros frutíferos com alguns destes engravatadinhos. Acreditem quando vos digo que não obtenho particular prazer em falar deste tópico, tal são os meus sentimentos de cólera e desdém pelos engravatados de Bruxelas. Ainda assim, são estas mesmas emoções agudas que me levam a partilhar convosco este tema. Encarem-no como uma sátira.

Os engravatados de Bruxelas são aqueles que:

 

  1. Perguntam onde trabalhas antes de perguntarem o teu nome
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  2. Fazem sons como “uhhhh” ou “ah” quando respondes à pergunta “Onde trabalhas”. O primeiro som (o “uhhhh” prolongado”) é feito quando o local de trabalho do inquirido é digno o suficiente do inquiridor; o segundo som (o “ah” curto e feio) é feito quando o local de trabalho do inquirido é indigno e não merece que o inquiridor gaste mais latim com o inquirido
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  3. Levam o dístico/cartão de trabalho ao pescoço (cartão esse que mostra a insígnia do local de trabalho do engravatado que com orgulho o passeia no seu percurso casa-trabalho/ trabalho-casa
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  4. Perguntam de que família o teu apelido é. Algo como (e não esquecer de fazer a colocação de voz primeiro): É da família Sotto Mayor diz-me?
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  5. Se o sujeito inquirido for de uma família com um apelido sonante, a pergunta que os engravatados fazem de seguida é: Não me diga que é sobrinho/primo/filho de?
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  6. Vestem fato e gravata todos os dias no local de trabalho, mesmo não sendo necessário (estamos no século XXI malta 👀)
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  7. Ficam chateados quando as reuniões Zoom, para a qual se vestiram a rigor, decorrem sem a câmara ligada (flop)
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  8. São desprovidos de empatia (ou tecnocratas) e privilegiam os números e os resultados em detrimento da componente social e humana
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  9. São alheados da realidade, por consequência do seu privilégio (que porventura desconhecem ter). Descrevem e generalizam situações de acordo com aquilo que lêem nos títulos dos jornais – sem conhecer a realidade e as circunstâncias de muitos desgraçados que por aí andam
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  10. Exercem o privilégio branco e não reconhecem que o possuem. Por exemplo, quando estão a descrever situações ou acontecimentos, descrevem os envolvidos referindo-se à rua raça ou cor (quem nunca?)
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  11. Conservadores e chauvinistas, sofrem de aversão, desconforto, antipatia ou desprezo por pessoas homossexuais, bissexuais, LGBT e por aí em diante (ah e se forem portugueses, são do CDS)
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  12. Emanam o complexo de superioridade (complexo mais fácil de observar através do nariz ligeiramente empinado ou então parece que engoliram um garfo🍴)
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  13. Podem viver em realidades paralelas onde os unicórnios existem 🦄
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  14. Vangloriam-se subtilmente (ou nem tanto) e referem as reuniões que têm nas grandes instâncias das instituições europeias
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  15. São portugueses (pelo menos, grande parte dos que conheci insere-se nesta categoria…)
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  16. Definem o seu valor pessoal nas suas conquistas e realizações e no reconhecimento que daí advém (mas isso somos quase todos nós, não é?)

Perdoem-me aquilo que me pareceu ser uma lista infindável de críticas tendenciosas e análises generalistas que faço dos engravatados. Eu própria sei que a generalização não espelha a realidade e tudo aquilo que aqui refiro não representa totalmente a categoria de pessoas às quais denomino “engravatados”. As generalizações que apresento são resultados da minha experiência num meio profissional altamente sui generis. Ainda assim… Caramba… Não me consigo deixar de sentir arrepiada quando me cruzo (para tentar fugir logo de seguida) com um engravatado de Bruxelas.

 

Mais monólogos aqui.

Assinatura a eterna insatisfeita