Addis Ababa – Dakar, 6 Junho 2022, 11:31AM
Escrito no avião rumo ao Dakar, Senegal
Antes de continuares, lê a Parte I deste artigo
Após dezenas de candidaturas iniciadas no final de Fevereiro de 2022, recebi o convite para uma entrevista para uma posição na Etiópia a realizar-se no dia 7 de Abril, quinta-feira. A minha primeira entrevista com as Nações Unidas. Foi com incredulidade e esperança que aceitei. Pela frente restavam-me apenas três dias de estudo escrupuloso, treino e preparação. Seguiram-se dias e madrugadas de estudo com a preparação de pelo menos 30 perguntas e respostas a abranger uma lista infinita de cenários. A entrevista, gravada e com um painel de quatro entrevistadores, decorreu com mais tranquilidade do que esperava mas a minha performance (chacoteei-me eu) levou a melhor de mim e deixou-me a pensar que não seria desta.
De forma a combater a desilusão, evitei pensar no desfecho e massacrar o desgraçado do E com este assunto. O E foi o meu único confidente neste processo e, como tal, era com ele que falava e discutia todos os cenários possíveis e imaginários. Após a entrevista e depois de dias e noites a fio de preparação, foi altura de usufruir do fim-de-semana.
Passou-se sexta-feira, sábado e domingo. Segunda-feira fui ao escritório para uma reunião de equipa. Ao mesmo tempo que subia as escadas, fazia resfresh no email e pensava “É segunda-feira Soraia. Só se passaram 3 dias portanto não esperes receber nenhuma resposta”.
Ainda assim, e contrariando a lógica, “qual era o mal de fazer refresh?”, pensei. Até que, com estes pensamentos em mente e já nos últimos degraus da escada que me levava ao escritório, recebi um email que dizia: “You are the preferred candidate for the assignment”.
Com incredulidade por estar a receber um email em tão pouco tempo (e habituada à cultura belga de fazer “assignments” para passar às próximas fases das entrevistas), pensei para mim mesma: “Ora bolas, agora ainda tenho que fazer um assignment!”.
Sem entender muito bem o que o email significava (não havia tempo para o ler com atenção naquele momento), enviei um print screen ao E e escrevi “OMG”. Sentei-me na cadeira para participar na renuião de equipa e leio a mensagem do E que dizia mais ou menos isto “Não percebeste? Foste selecionada! O assignment é a posição”.
Frenesim
Frenesim e incredulidade. Ora por não acreditar no que estava a acontecer, ora por não ter tempo para processar o facto de ter de me mudar para a Etiópia em apenas DUAS SEMANAS.
Perguntas que me vinham à mente e para as quais não tinha tempo para processar:
- “Eu sei que fui eu que me candidatei a esta vaga mas…Etiópia? O que raio há, e como é a Etiópia?” (O frenesim e o pouco tempo era tanto que só pesquisei sobre a Etiópia dias antes da viagem.)
- “Será que tenho o que é preciso para fazer isto?
- “Onde é que vou viver?”
E muitas outras perguntas que, pela velocidade a que passavam, não consegui reter.
Nessa mesma semana tratei de quase todos os documentos necessários para a viagem. Desde fazer 41 kilómetros de Bruxelas à Antérpia para levar as vacinas obrigatórias (porque a única clínica disponível para administrar a vacina da febre amarela era na Antérpia), até marcar jantares com amigos para as despedidas e reuniões com o supervisor, recursos humanos e colegas de trabalho para dar início à rescisão/saída que (pela rapidez), mais parecia uma saída de emergência.
O meu último dia de trabalho foi numa sexta-feira. No dia seguinte (e seis malas depois) apanhei o avião para a Etiópia e na terça-feira começei a trabalhar. O meu coracão nunca palpitou e o meu espírito nunca duvidou de que, apesar do tremendo desafio pessoal e profissional que se colocava, esta iria ser uma oportunidade única e irrepetível.
O E teve a bondade de vir comigo (e estarei sempre eternamente grata) para passar as próximas duas semanas como forasteiro numa terra estranha, a teletrabalhar a partir de um hotel com uma qualidade de internet deplorável, num país com parcos recursos financeiros, onde o governo raciona a água e a electricidade e restringe o uso da internet.
No que é que me fui meter….