Álvaro tem 45 anos. Viveu na Alemanha e partilhou a casa com o marido da sua companheira Caren e com os seus três filhos e manteve, simultaneamente, uma relação com outra mulher. Ambas tiveram dois filhos de Álvaro, com apenas quinze dias de diferença. Agora são uma família. Confuso/a? Lê a entrevista!
Álvaro da Maia e Caren Horn são amantes da natureza e da ecologia. Contam-me a sua história em Almoçageme, numa pequena casa típica, no cimo da encosta de Sintra, onde moram, mesmo em frente a um prado que anuncia a Praia da Adraga. Ambos vivem com Petra e com os seus dois filhos de 6 anos, com apenas 15 dias de diferença.
Álvaro sabe que o poliamor é um desafio: “A ideia de várias pessoas envolvidas amorosa e sexualmente, apaixonadas umas pelas outras e que fazem amor umas com as outras, é um desafio para a nossa sociedade e para a nossa cultura estabelecida”, partilha.
“Sou poliamoroso há cerca de 14 anos. Foi uma decisão súbita. Na altura em que descobri o poliamor não conhecia ninguém como eu e só tinha lido algumas coisas sobre o assunto. Após terminar uma relação monogâmica conturbada, senti que nunca mais queria experimentar a monogamia. Senti que queria uma relação aberta. Eu sentia e sabia que era possível! Foi uma decisão pura que tomei.
Um mês depois de tomar a decisão de me tornar poliamoroso, encontrei a comunidade Tamera, no sul do Alentejo – um projeto alemão que se baseia num modelo de comunidade sustentável e que já existe em Portugal há 18 anos. Foi na eco vila de Tamera que, pela primeira vez, pratiquei o poliamor”, conta Àlavaro.
Para Caren, o poliamor surgiu de uma decisão consertada e natural:
“Eu experienciei o poliamor há 21 anos. O meu namorado, com quem estava junto há quatro anos, disse-me que se queria separar porque se apaixonou por outra mulher. Eu não queria que nos separássemos. Pensei que seria melhor continuarmos e ele podia manter a relação com a outra pessoa. A partir desta minha primeira experiência fiquei inspirada e quis ver mais destes exemplos na sociedade. Até que comecei a frequentar comunidades”, diz Caren, poliamorosa assumida e uma das companheiras de Álvaro.
O tempo passou e Caren constituiu família, casou e teve três filhos. O marido também era poliamoroso e ambos frequentavam as comunidades sustentáveis cuja mentalidade e as práticas se baseavam no amor livre.
“Quando descrobri a comunidade de Tamera, em Portugal, decidi ir com a minha família, o meu marido e os meus 3 filhos. Na comunidade conheci o Álvaro e apaixonámo-nos. Mais tarde ele decidiu visitar-me à Alemanha e acabou por ficar a viver comigo e com a minha família durante um ano e meio”, diz Caren.
Para Álvaro, a experiência de partilhar a casa com Caren e com o marido dela, foi transformadora, tal como partilha:
“O tempo que passei com a Caren e a sua família foi muito intenso. Foi uma altura de muita proximidade mas ao mesmo tempo de muita introspeção e confrontação interior. Por exemplo, ouvi-la a fazer amor com o marido era algo muito intenso, que nunca experienciei antes”.
Uma Família improvável
Álvaro conta que a sua relação com Caren sempre foi muito forte e o desejo de constituir família estava sempre presente.
“Quando eu e a Caren nos juntámos, ela já tinha 3 rapazes da sua relação com o marido. Ambos tínhamos vontade de ter um filho, e passado algum tempo a Caren engravidou, o que foi um problema para o marido dela”, explica.
Enquanto vivia com a Caren na Alemanha, Álvaro também mantinha um relacionamento com Petra, que vivia em Portugal.
“Passado algum tempo voltei para Portugal para passar férias, e para estar com a minha outra parceira, Petra, que, por volta da mesma altura, também me disse estar grávida. Foi uma surpresa, porque a Petra pensava que era infértil. Na altura a Caren também esperava um filho meu, mas mesmo assim aceitou a situação. Hoje mantenho um relacionamento com a Petra e com a Caren, que são amigas, e os nossos filhos não podiam estar mais felizes”, esclarece o poliamoroso.
“A razão para eu e o marido de Caren nos desentendermos foi porque, suponho eu, ele não tivesse uma ligação tão forte com ela como eu tinha. Foi também por essa razão que a Caren e o marido acabaram por se separar e eu e ela ainda hoje estarmos juntos.”
Caren e Álvaro viajaram para Portugal e Caren acabou por travar uma forte amizade com Petra, como explica Álvaro: “acabámos por nos mudar para Sintra. Vivíamos todos perto uns dos outros. A Petra e a Caren tinham casas separadas e eu partilhava o meu tempo com ambas.”
Poliparentalidades
Para Caren e Álvaro o poliamor nunca representou um constrangimento na educação das crianças.
“Eu tenho 3 rapazes crescidos, que vivem na Alemanha”, diz Caren, e “também tenho a minha filha, da minha relação com o Álvaro. Nunca senti que tinha que lidar com um problema. Eu não sinto que as crianças achem estranho. Se nós quiséssemos fazer segredo disto, então aí haveria razão para as crianças acharem estranho. Mas no nosso caso isso não acontece, é tudo muito natural.”
A filha de Álvaro e Caren, Glen, tem 6 anos e brinca alegremente com o meio-irmão, filho de Petra, cuja idade é a mesma.
“Acho que é um mais valia e as crianças sentem-se ainda mais seguras, porque não dependem de uma só pessoa. Para as crianças tanto faz ser eu, a Petra ou o Álvaro a cozinhar, ou a deitá-las na cama”, explica Caren resolutamente.
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