Uma estante com livros

Um método onde os alunos ‘votam’ o que querem aprender

Na hora de escolher a escola dos filhos as famílias procuram aliar um bom sistema de ensino com a proximidade de casa. Mas há quem queira mais e procure locais com mais ofertas, que promovam o desenvolvimento de outras capacidades. Ao longo de duas semanas, visitei cinco escolas certificadas, que usam pedagogias de ensino menos convencionais.  Na escola de hoje, a experimentação é mais importante do que os livros.

No colégio Os Aprendizes, em Cascais, as salas não têm secretárias alinhadas de frente para o professor. Os alunos de cinco anos, que passaram agora para o 1.º ano, sentam-se em torno de uma mesa redonda. Estão numa assembleia.

Os adultos também estão presentes, camuflados por entre as crianças e perguntam-lhes, entre outras coisas, o que é que gostaram, ou não, de fazer durante o ano letivo. A assembleia realiza-se todas as sextas-feiras à tarde e serve para ensinar as crianças a responsabilizarem-se pelas suas decisões.Um dos conceitos base é de que nada é decorado ou estudado através dos manuais mas através da experiência.

“O adulto provoca mas quem chega à informação é o aluno, sempre através da experimentação. Nós não nos guiamos pelo manual”, explica a diretora Sofia Borges, que abriu este espaço quando se viu com dificuldades para encontrar uma escola que gostasse para os seus filhos.

Para se “perceber melhor, em vez de aprenderem o funcionamento do sistema digestivo nos livros, os alunos vão para o moinho que temos lá fora, põem areia e ela vai percorrendo o seu caminho como percorreria no corpo humano.”

Um grupo de alunos à volta de mesa discutem o plano de estudos
Foto: Tiago Miranda

O mesmo aconteceu quando tiveram que aprender os pontos cardeais. Neste caso, explica, “os alunos foram para a rua e perderam-se intencionalmente para depois conseguirem encontrar o caminho de volta, apenas com uma bússola”, explica a diretora.

Professores fazem guião, alunos decidem o que querem aprender

O colégio Os Aprendizes segue o plano curricular do Ministério da Educação, mas são as crianças que escolhem os temas que querem estudar todas as semanas. Aos professores, compete fazer o guião de acordo com o tema.

Na sala do professor de português, Pedro Madeira, há uma parede repleta de guiões com vários temas da disciplina, que a criança pode escolher trabalhar individualmente ou em grupo. “Existe uma cultura de não se perguntar às crianças o que pensam mas nós aqui perguntamos”, diz a diretora: “Somos todos diferentes. Já existe um currículo igual para todos e já existe uma expectativa de que todos aprendam as mesmas coisas. Ao menos, que se permita que cada um aprenda ao seu ritmo e da sua forma.”

Para além das disciplinas comuns a todo o ensino, as crianças têm aulas de yoga, meditação, oficina das artes e teatro, bem como um grande contacto com a natureza, fomentado por um jardim cheio de árvores e flores.

Todas as classes têm um animal como mascote, ora um cão, um peixe, um gato, um coelho ou um pássaro. Tudo isto para promover laços afetivos com os animais e para facilitar e fortalecer a capacidade de comunicação das crianças.

“Nós olhamos para a criança como um todo. Ela está na escola para se desenvolver numa série de áreas e as competências académicas são apenas algumas dessas áreas”, diz a diretora Sofia Borges, enfatizando que dialogar, articular ideias, saber fazer escolhas, viver experiências e retirar delas significado são as competências que o método High Scope e os Aprendizes valorizam.

“Tenho a profunda convicção, que nasceu da experiência, que os alunos estão muito mais disponíveis para aprender quanto mais eu permitir que se expressem”, conclui a diretora.

Alunos fazem sugestões para o próximo ano letivo

A última assembleia deste ano letivo terminou. As crianças comemoram o último dia de aulas e os professores acolhem as sugestões dos alunos atentamente contando que, no próximo ano, a assembleia continue pluralista e democrática.

Neste colégio, a alimentação é biológica e cuidadosamente estipulada por uma nutricionista. “Não faz sentido investir em materiais que respeitem o ambiente e depois comer batatas fritas de pacote e Coca-Cola”, esclarece Sofia Borges. A escola tem dois dias de carne, dois dias de peixe e um dia de comida vegetariana.

O método pedagógico de Os Aprendizes baseia-se maioritariamente na pedagogia High Scope, indo buscar elementos ao método Waldorf e ao Movimento da Escola Moderna.

A pedagogia High-Scope, foi criada nos EUA na década de 60 por David Weikart, para combater o insucesso escolar. Defende que a aprendizagem deve ser feita através da experiência e de interações sociais significativas, porque se acredita que a criança tem um papel ativo na construção do seu conhecimento.

 


Bilhete de identidade de Os Aprendizes:

Esta escola aposta num sistema de ensino que privilegia as interações positivas entre o adulto e a criança, e o trabalho de equipa. Para além do método High-Scope, Os Aprendizes também se inspiram na pedagogia Waldorf e no Movimento da Escola Moderna.

Idades: Aceita crianças dos 3 aos 12 anos (pré-escolar, 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico).

Horário: 8h / 18h30.

Preços: A mensalidade é de 356 euros. A inscrição custa 275 euros e o seguro escolar 35 euros. Os valores são iguais em todos os anos escolares.


Esta série de reportagens foi desenvolvida enquanto estagiária no jornal Expresso.

Lê mais aqui: